É conhecida a identificação de Vilar de Mouros com a arte dos metais, sendo que as duas grandes oficinas de ferreiros — a Oficina Torres e a Oficina Fontes, ambas sempre na posse das mesmas famílias — estiveram em contínua atividade desde, pelo menos, o século XVIII, como demonstrado pelas nossas recentes pesquisas. A partir de inícios do século XX, enquanto a Oficina Torres se especializava no fabrico de ferramentas especializadas para estucadores e pintores — vendidas em lojas e drogarias de norte a sul do país, sobretudo em Lisboa — a Oficina Fontes, que chegou a albergar duas dezenas de operários, dedicava-se à produção de alfaias agrícolas (sobretudo semeadores e sachadores), e a sua área de influência ultrapassou em muito o nível local para atingir uma surpreendente abrangência regional (Minho e Galiza) e até nacional. Graças ao sucesso comercial das suas alfaias, a Oficina Fontes (a maior das duas) beneficiou de uma importante obra de remodelação em 1948, com o projeto da autoria do arquiteto José Porto (1883-1965), um distinto conterrâneo há poucos anos regressado da Europa onde estudara e iniciara uma brilhante carreira profissional. Deste projeto de linguagem arquitetónica moderna e funcionalista, resultou o atual edifício da oficina, com extensas superfícies envidraçadas e uma clarabóia suspensa numa estrutura em madeira, única na região.
Ambas as oficinas cessaram a sua atividade industrial e comercial no decorrer da primeira década do século XXI, sendo que o seu exterior e interior (incluindo um valioso espólio industrial) se mantêm inalterados. A Oficina Torres, apesar de desativada, ainda é frequentada regularmente pelo seu último ferreiro e proprietário, enquanto a vizinha Oficina Fontes, há vários anos encerrada e à venda, se encontra em maior risco de degradação física, estando o seu espólio em sérios riscos de se perder.
A proposta de classificação das duas oficinas de ferreiros de Vilar de Mouros marca apenas o início de um processo de avaliação patrimonial por parte das entidades oficiais que é normalmente moroso mas importa sublinhar que a classificação de um imóvel no nosso país, que pode resultar da iniciativa do Estado, de uma associação ou de um cidadão a título individual, não tem qualquer interferência com a titularização, ou até transmissão, da propriedade, visando tão somente a salvaguarda e proteção do bem patrimonial.